Já falamos lá em LIMITES, dentro da parte CRIANDO A EXPANSÃO, sobre definir até onde a sua narrativa vai. E pra onde a sua narrativa vai depois que você já foi até onde queria?
Enquanto ela é feita e lançada, o lugar onde ela está não é uma preocupação. Oras, é só ver o canal, ir no cinema, na livraria, na exposição, onde seja que a sua narrativa estiver. É quando você já terminou ela que nada mais é garantido. Talvez as livrarias mantenham o estoque que não venderam ou um teatro mantenha a peça como um espetáculo rotativo, mas isso não garante que as pessoas ainda terão a mesma experiência de quando sua narrativa era ativamente desenvolvida.
Lost é um caso notável em questão de arquivamento. Boa parte de seu conteúdo transmidiático estava hospedado no servidor da emissora onde a série era transmitida, ou em anúncios publicitários que circularam em outdoors e jornais. Depois que a série acabou… praticamente tudo sumiu. O conteúdo online ainda sobrevive com compilações de fãs, mas oficialmente você só tem acesso a série. Melhor que nada, mas você perderia muita coisa não fosse o esforço dos fãs em manter tudo ativo.
Entendeu agora porque a audiência é tão vital?
Aqui é a parte onde você se pergunta se garantir que a experiência da sua narrativa transmídia pode se manter o mais intacta possível é uma boa ideia. A experiência que uma pessoa pode ter com a narrativa já mudou, pois existiriam pessoas que já viram antes e o coletivo da comunidade de fãs começa a influenciar a interpretação. E dependendo do tipo de mídia, manter sua existência se torna inviável a longo prazo em questão de custo, particularmente se ela envolve algum espaço físico. Como várias outras franquias e histórias comprovam, a comunidade pode ter um repositório suficiente para arquivar por conta própria, mas contar com isso não é a melhor ideia.
A facilidade de arquivamento depende muito do tipo de mídia: conteúdo audiovisual é facilmente replicado por meios digitais ou analógicos, enquanto eventos podem ser capturados e transformados em conteúdo audiovisual mas não se comparam a estar no próprio local. Livros podem passar por diferentes mãos mesmo que não sejam mais impressos. Você pode começar uma tradição oral que será eterna enquanto houver alguém que lembre das palavras. Brincar com o arquivamento também é uma opção: fazer uma história difícil de se arquivar de propósito e transformar ela em “uma lenda esquecida com o passar do tempo” pode dar uma camada a mais para a narrativa como um todo.
O custo do arquivamento pode ser o fator definitivo nessa questão. Afinal, imprimir livros ou gerar cópias de discos sai mais caro do que manter o servidor de um site, por exemplo. A Disney criou a ideia d’O Cofre: uma vez a cada período de 5 a 7 anos, ela disponibiliza suas animações para o público por tempo limitado; depois disso, elas “voltam para O Cofre” e “são preservadas”. Na verdade, é uma estratégia para não precisar fazer cópias constantemente e garantir que alguém sempre vai comprar quando sair. Essa estratégia pode ir contra seus valores pessoais, mas ter um ciclo de disponibilização da sua narrativa pode ajudar a manter as preocupações com arquivamento relativamente simples e uma experiência a mais para quem assiste.