Espero que ninguém tenha pensado que tudo isso seria feito sozinho. Sim, uma narrativa transmídia envolve grupos, grupos esses formados por várias pessoas, pessoas essas que terão funções entre si porque uma narrativa transmídia não se produz solo. E como essas equipes funcionarão? É aqui que discutimos isso.

DIVISÃO

Cada mídia terá suas equipes de produção, claro. Mas, pensando nas questões de narrativa expandida, surge a pergunta: como isso vai ser sincronizado entre todas as equipes? Dois métodos podem ser considerados aqui:

Dependendo da sua narrativa, várias mídias podem ter as mesmas demandas em diferentes pontos. Tendo essas demandas desenvolvidas por uma equipe só facilita o controle de qualidade e garante uma consistência para cada trabalho.

Isso já é feito em alguns lugares, para narrativas diferentes. A CAPCOM, por exemplo, tem um departamento para criação de personagens e criaturas que todos os seus jogos usam. Mas não se limite a apenas uma coisa; se você acha que a sua narrativa merece uma atenção maior em uma área em específico, tente tratar ela como uma divisão à parte das mídias e vê se dá certo.

Organizar desse modo tem um porém: a carga de trabalho. Vamos utilizar figurinismo de exemplo: você tem três pessoas cuidando de roupas para um filme, outras quatro pessoas criando o guarda-roupa de uma série. Se você juntar todas elas, mesmo que ainda tenham todas essas sete pessoas, a quantidade de trabalho pode ser demais se a série fazer uma externa ou o filme precisar de regravações. Por isso, essa forma de divisão pede um cronograma de produção muito bem feito.

Pode parecer redundante especificar um supervisor quando supervisão já é algo esperado numa produção, mas a função dele vai ser lidar apenas com questões que envolvem as outras mídias dentro de cada projeto. Essa pessoa vai olhar o projeto por fora e ver se ele atende o que a narrativa precisa dentro do contexto transmídia, deixando a equipe do próprio projeto fazendo da forma que eles acharem melhor. Pode ser uma proposta interessante quando você não tem muitas definições concretas; uma produção mais categorizada pode ser mais eficiente, mas pode sufocar as ideias mais doidinhas que podem ser o toque final para sua obra virar uma obra-prima.

O ponto chave do papel do supervisor transmidiático tem que ser a confiança. Ele não pode só apontar os problemas, dar diretrizes e ir embora, ou só sorrir e acenar enquanto o circo pega fogo. A pessoa, ou pessoas, que cuidarão disso precisam ter uma boa relação com todas as equipes porque elas serão as pontes para criar as suas pontes narrativas.

Aliás, isso merece um tópico isolado.

INTERAÇÃO

Já falamos sobre a importância que a interação da audiência tem em uma narrativa transmidiática lá na parte CRIANDO A EXPANSÃO, mas a interação de quem faz é primordial.

Fazer uma narrativa transmídia é igual a um trabalho de escola: por mais que uma pessoa só possa fazer tudo e ter um resultado decente, ele só fica excelente quando todo mundo está fazendo junto. Com a diferença de que fazer uma narrativa transmídia pode ser divertido de verdade. É importante estabelecer um ambiente onde todo mundo conversa entre si, mesmo que estejam em projetos completamente diferentes, por mais que algumas pessoas se odeiem — afinal, assim como em trabalhos de escola, não dá para garantir que você vai fazer com um grupo de amigos.

E isso não se faz com reuniões constantes, por mais incrível que pareça. Só de se preparar tudo e separar um horário para reunião e ficar na reunião você pode acabar com menos tempo e uma produção maçante. Não queremos dizer que não se deve ter reuniões nunca, muito pelo contrário. Mas manter um cronograma geral atualizado em tempo real é melhor do que marcar encontros para falar de produtividade. Essa conversa sobre cronogramas a gente vai ter direito em SINCRONIA DE PRODUÇÃO ali em cima.

Voltando para a interação entre equipes. Uma troca de comentários parece inofensiva, mas é a partir dela que você cria um ambiente colaborativo para a criação da sua narrativa. Só das pessoas se sentirem à vontade para falar de problemas e pedir segundas opiniões a produção se torna mais leve. Como as melhores ideias vem no acaso, permitir um acaso faz bem. Ócio também faz parte da produção, e unir sua equipe no conforto e não no perrengue vai evitar dor de cabeça para todos.

Dependendo da sua narrativa e das equipes que estão nela, talvez não seja fácil estabelecer essa troca aberta. De qualquer forma, tente sempre deixar quem produz essa narrativa junto com você sentir que está de fato junto contigo. A potencialidade da transmídia nasce na exploração de cada mídia, e a potencialidade na produção de uma narrativa transmídia nasce quando quem trabalha nela pode explorar durante o processo.