Cada pessoa tem a sua história pra contar. Por isso, existem tantas histórias focadas em personagens por aí.

Todo mundo tem seu jeitinho de fazer sua gentinha. Aqui a gente aponta umas coisinhas pra se pensar que pode ajudar. Vem com a gente.

PRINCIPAL(IS?)

Já é garantido que a história terá personagens, mas qual deles será o principal da narrativa? E será que será só um? Ter um elenco de protagonistas pode ser mais viável dependendo da narrativa a ser criada. O personagem principal pode nem ser um personagem de fato! Como foi dito lá na parte de Ambientação, o local onde a história se passa pode ser o grande foco e todo o resto só existe pra complementar. Não existem limites no protagonismo, afinal de contas.

Mas um protagonista bem feito dá um banho em 20 protagonistas meia-boca, então sempre é bom pensar e repensar nos personagens principais que você faz.

POR EXEMPLO...

Para a nossa narrativa, decidimos ter três protagonistas:

Desenho de rosto da personagem Adriana, olhando com apreensão e esperança para a direita

Adriana, a heroína relutante

Desenho de rosto da personagem Bianca, olhando de forma confiante para a frente

Bianca, a líder nata energética

Desenho de rosto em perfil da personagem Cláudia, pulando energeticamente

Cláudia, a aérea curiosa

Cada uma das meninas tem uma história importante que quer contar e um potencial dramático notável para acompanhar essa história. No entanto, nós simplesmente não temos o tempo ou os recursos necessários para adequadamente separar os desenvolvimentos de cada uma delas em episódios diferentes de uma mesma mídia. Para a nossa sorte, a vantagem de trabalhar em um projeto de transmídia é que a gente não precisa fazer esse sacrifício para contar uma história completa.

ELENCO

Mesmo que você não tenha um elenco de protagonistas, definir um grupo de personagens que serão desenvolvidos é essencial. É na interação entre protagonista e elenco que o grosso da história acontece. Especialmente quando se fala das distinções entre eles. Se você está fazendo do mundo o seu protagonista, você tem que garantir que o seu elenco vai conseguir fazer uma diferença nele.

O elenco de personagens deve sugerir uma clara interação entre as características deles e o tema da história. Por exemplo, nas histórias do Batman, os vilões que ele enfrenta servem como reflexões dos defeitos do protagonista: Perda, moralidade, ego, medo, poder e loucura; são temas com os quais o Batman está sempre lutando literalmente e figurativamente durante as suas histórias, e por essa razão elas têm significados mais profundos do que simplesmente “o bem contra o mal”.

O estabelecimento de um elenco desde o começo de uma narrativa não quer dizer que o elenco não pode ser expandido ou reduzido com o tempo. Ter um conjunto de temas e relações pré estabelecidas é importante para estabelecer um precedente para os cenários que virão a ser escritos, e abre o caminho para novas adições no futuro.

POR EXEMPLO...Uma olhada no nosso elenco inicial

Victor e Victoria: Irmãos gêmeos, colegas de escola de Adriana e bons amigos do trio.
Victor costuma ser o alívio cômico; é cabeça fria, cuidadoso e pensativo, sempre procurando o caminho mais tranquilo.Não tem muitas ambições, é feliz com o que tem. Victor tem a capacidade de ver o lado bom em tudo e tem uma paixão inegável pelos seus passatempos, mas perde um pouco para a sua falta de comprometimento, desiste facilmente e é meio preguiçoso.
Victoria, por outro lado, é completamente tipo A, ela se adoece de tanto estudar. É determinada e destemida mas não sabe como maneirar e é perfeccionista. Ela sente certa admiração por Bianca, e deseja seguir os seus passos para o sucesso mas não consegue se livrar de um complexo de inferioridade danado que faz com que ela se sinto mais vulnerável aos erros. Este medo de errar chega a ser paralisante, mas sua determinação e inteligência são impecáveis.

Retrato de busto da personagem Victor, coçando a cabeça

Victor

Retrato de busto da personagem Victoria, empolgada

Victoria

Leilto: Professor de música do Centro Comunitário Imperial e da escola de Adriana. É animado, e gosta de deixar a maluquice correr solta. apaixonado por música, um fã de valores musicais clássicos. Leilto é um firme representante da paixão confinada e perdida com o tempo. Ele tem sentimentos de inadequação que não consegue esconder e sente-se responsável pelos sonhos dos outros. Desta forma é tipicamente autocrítico demais consigo. Quando ele vê as meninas desafiando as probabilidades e buscando o sucesso do nada é um sentimento revigorante que o restaura à quando ele começou a praticar música.

Retrato de busto da personagem Leilto

Leilto também tem uma gaita, mas hoje ele esqueceu de trazer.

Lazlo Royal: "Infame, safado e sem vergonha" é como o chamam nos estúdios da Rádio Trópico. Egocêntrico, uma pilha de problemas ambulante, e incrivelmente talentoso. Lazlo é um indivíduo frio e cético debaixo de uma máscara charmosa e confiante. Ele não tem muito reconhecimento pelo que já houve de bom e prefere cortar caminhos e se apegar a oportunidades. É um planejador e charlatão, mas é um comentarista incrível e cativante. Não existe antagonista melhor para a inocência da busca das meninas.

Retrato de busto da personagem Lazlo Royal

Royal, o Inesquecível (nos melhores e piores sentidos)

DISTINÇÕES

O que vai diferenciar cada personagem dentro da narrativa? Como e quanto ele vai aparecer, sua importância para a narrativa... Se todo mundo for igual, só vai fazer sentido ter um elenco de personagens se for necessário estar em dois lugares ao mesmo tempo, porque para contar a história um monólogo serviria.

Um bom exercício para criar distinções é pensar na função narrativa de cada personagem, utilizando estereótipos tropos básicos e expandindo além desses tropos. Digamos que uma das personagens é a típica patricinha: se ela é patricinha, quer dizer que, no mínimo...

A partir daqui podemos fazer mais perguntas: Ser patricinha é notável de forma positiva ou negativa? Qual a diferença entre ricos e pobres? Como ela é rica? Daí você pensa no contrário da patricinha e... já temos duas personagens distintas!

Seus personagens não precisam ser só funções usadas pra avanço de história também. Categorizar pode nem ser a melhor abordagem para a narrativa a ser montada, dependendo do tipo de história. Mas são essas coisinhas que tornam a nossa jornada mais gostosinha.

POR EXEMPLO...Falando um pouco mais das nossas protagonistas

Além das distinções físicas entre as meninas, seja de cor de pele, tamanho ou tipo de corpo, as meninas são diferentes em origem, classe e filosofia pessoal, embora elas três queiram a mesma coisa.

Adriana almeja o sucesso na música porque ela tem uma grande paixão pela música, sim, mas ela também faz isso porque ela não se sente interessada no sucesso em qualquer outra área de trabalho e por isso se sente insegura de seu mérito no grupo musical.

Isso se difere da razão de Bianca perseguir o sucesso, que de acordo com ela, é uma forma de escape do estresse do trabalho constante e da sua busca pelo futuro e de tentar se sobressair de sua origem.

Cláudia persegue o estrelato musical por interesse próprio, mas ela tem uma relação complicada com os pais, com sucesso e com riqueza, e simplesmente deseja se divertir, então sua dedicação chega a ser mais egoísta e menos comprometida do que as outras garotas, mas ela aprende a valorizar a relação das meninas com essa possibilidade, até mesmo porque ela não possui nenhum prospecto na vida ou paixão notável por nada além da camaradagem que ela encontra com música e artes marciais.

DETALHAMENTO

AQUI é onde discutimos os detalhes de cada personagem. As características, personalidades… Começar a criar um arco narrativo que o personagem vai ter durante a história aqui é interessante, mas não necessário na maioria dos casos.

Não tem nada pior no mundo da narrativa do que um personagem sem profundidade alguma, uma força sem peso ou intensidade que é forçada a existir pelo seu criador. Sem falar que é meio chato ter um personagem que tem um apelo visual maravilhoso e nada mais de interessante.

Portanto, em qualquer narrativa é importante que haja algo mais entre a superfície do personagem e o interior. Não é necessário que todos os personagens criados sejam absolutos perfeitos e obras de Shakespeare em quesito de história, mas que é importante que não estejam desperdiçando o seu tempo, é. Não é mesmo?

O detalhamento do personagem não só vem nas suas origens ou características pessoais, mas também nas maneiras como essas características se desenvolvem durante a narrativa, o que chamamos de “Arco Narrativo”. Você não precisa criar um arco narrativo para todo mundo logo de cara, mas tendo um começo e um fim definidos dá menos medo pensar no meio.

Assim como um rio nunca é o mesmo em dois momentos porque a água flui, pessoas também mudam entre um momento e outro; e mesmo que a sua história não dê muito tempo para o elenco passar por grandes transformações, é importante que os seus personagens consigam passar por experiências que desafiam as ideias deles, mesmo que isso não leve a mudanças diretas.

POR EXEMPLO...Detalhando nossas protagonistas

Adriana começa a história sem vontade de se envolver com nada de duradouro e determinada a manter os pés no chão, durante a história a sua relutância de formar um grupo musical vem de um profundo medo de palco, e isso acaba surgindo de forma destrutiva contra as outras integrantes do grupo. Mas ao continuamente ver a determinação das suas amigas, e a dedicação delas a respeito do grupo, Adriana descobre que o que ela queria mesmo era ser parte de um grupo que aceitasse ela como ela é.

Bianca começa a história com grandes ambições e pouca real preparação, mas seu entusiasmo a faz parecer como se ela tivesse tudo sob controle. A expectativa e necessidade de permanecer competente e firme é uma enorme pressão nas costas de Bianca, algo que finalmente chega ao seu ponto de estouro perto do clímax da história. No entanto, a fé de suas amigas a permite que Bianca recupere sua composição e confiança, e a permite retomar a liderança a tempo.

Claudia começa sem maiores interesses do que se divertir. Durante a história, essa falta de determinação faz com que falhe em questão de encorajamento, e sua relativa casualidade a faz parecer mais ambivalente. No clímax da história, Claudia redescobre o porquê de ter se juntado ao grupo, e com sua fé restaurada, inicia a marcha para a reunião das meninas.

RELACIONAMENTO

Como os personagens vão interagir entre si? Eles se gostam, se odeiam? Tem uma relação sanguínea ou de outro tipo? Isso faz parte do detalhamento, mas dependendo do tamanho do elenco ou da complexidade dos relacionamentos dentro da narrativa, tratar isso como um elemento distinto é melhor do que ver junto dos outros detalhes.

A maneira como dois personagens interagem é necessariamente conectada ao detalhamento e à progressão dos arcos dos personagens, mas além disso, é mais condicionada pela causalidade das cenas. Se a cena for casual, o detalhamento determina se os personagens são amigáveis, rivais ou indiferentes. Estabelecimento de poder, prioridade, amizade, respeito ou rancor são importantes em qualquer cena onde a dramatização é necessária.

POR EXEMPLO...Como é a dinâmica entre nossas protagonistas?

As meninas se relacionam de diversas maneiras, elas buscam pertencer a um grupo, elas buscam comunhão e liberdade, um estilo de vida novo onde elas podem perseguir sonhos tolos ou imprudentes. Nem todas as meninas se entendem perfeitamente bem no começo, algumas vezes, as personalidades delas se contrastam demais, e as tensões que vem de serem responsáveis pelo mantimento de um grupo musical amador. Mas o que é importante é que elas estão lidando com as dificuldades juntas.