Uma grande história é ótima, mas sua produção pode se tornar caótica rapidamente. Quebrar a narrativa em arcos, fases ou ciclos pode ajudar nessa questão. Criar pontos onde a narrativa pode ser pausada, ou que a audiência possa começar sem muito contexto anterior, ajuda a dar uma estabilidade e previne um fim inconclusivo caso algo que impossibilite o término planejado ocorra.
Você pode falar de um universo inteiro desde criação até destruição, ou apenas de um mero minuto. Isso é a narrativa que define. O que está sendo discutido aqui é até onde a expansão transmidiática vai cobrir. Nem sempre continuar uma história além de certo ponto é viável ou interessante. Pare para se perguntar se vale a pena ir além ou se buscar uma expansão dentro desse tempo já coberto é uma alternativa melhor.
Essa é uma questão vital para ficção histórica: pode ser mais interessante cobrir um evento como, por exemplo, a Revolução Francesa, cobrindo um setor da sociedade de cada vez do que abordar tudo junto e levar a história até a queda de Napoleão.
Quando se fala de narrativas transmídia, parece que quanto mais melhor, mas nem sempre isso é viável. Pode ser mais prático você ter 30 histórias em três mídias do que 1 história para 30 mídias, por exemplo. Se você definiu um número de mídias lá no começo, após um tempo de produção maior vale estudar se vale a pena continuar só nelas ou incluir mais algumas no esquema.
Em questão de limites estabelecidos para o nosso projeto, é uma categoria que tivemos que revisar inúmeras vezes durante o nosso desenvolvimento, especialmente quando consideramos que o projeto faz dois anos de idade hoje. Inicialmente tínhamos planos mais expansivos para a quantidade de mídias empregadas, incluindo até um ponto um áudio drama, um single de música e um conceito de jogo que acabamos tendo que abandonar no meio da produção do Animatic. O Animatic serviu como o Piloto da nossa história e nos permitiu contar o ponto de origem da nossa narrativa e das nossas personagens áudio-visualmente.
A Narrativa foi estruturada em volta do Animatic após sua conclusão, pois foi por meio dele que conseguimos concretizar as nossas personagens ao invés de só pensar nelas em voz alta. O Piloto conta a história da origem do grupo “Star eStar”, como as garotas se conheceram e como elas chegaram a conclusão de formar o grupo em primeiro lugar, do programa “DJ por um Dia” até o eventual primeiro concerto. Após este ponto, a história entra em um caminho mais calmo, onde podemos explorar contos diversos das meninas buscando inspiração, tentando sobreviver a vida de artistas independentes, saindo juntas ou lidando com seus problemas pessoais em questão de semanas ou até mesmo meses. No Quadrinho, por exemplo, queríamos explorar uma história sobre as meninas decidindo no figurino do grupo antes de um concerto.
Muito do enredo que acabamos desenvolvendo acabou ficando na nossa cabeça, pelas complicações do Animatic e por causa da grande ambição da nossa narrativa, então em retrospectiva foi uma valiosa lição reduzir um pouco a marcha e reconsiderar as nossas prioridades para a narrativa.